A Lição sobre Demarcação na Filosofia da Ciência

A história da filosofia da ciência no século XX é marcada pela incessante busca por um critério de demarcação, visando distinguir a ciência de outras formas de conhecimento.

Evolução dos Critérios de Demarcação

Positivismo Lógico (Círculo de Viena): Propôs a verificabilidade como critério de significado, onde apenas enunciados empiricamente verificáveis seriam considerados científicos.
Karl Popper: Reconheceu a impossibilidade da verificação estrita e introduziu a falsificabilidade, sugerindo que uma teoria é científica se puder ser refutada pela experiência.
W.V.O. Quine: Questionou a distinção entre enunciados empíricos e lógicos, argumentando que as afirmações científicas estão interligadas numa rede teórica, não podendo ser testadas isoladamente.
Ludwig Wittgenstein (fase tardia): Defendeu que o significado não é uma relação fixa, mas parte de um "jogo de linguagem" e de uma "forma de vida" socialmente construída.
Norwood Russell Hanson: Introduziu o conceito de "theory-ladenness" (carga teórica), afirmando que as observações não são neutras, mas dependem de pressupostos teóricos.
Wilfrid Sellars: Desmascarou o "mito do dado", reforçando que não há perceção pura e independente da teoria.

O Desafio dos Paradigmas e o Relativismo

Thomas Kuhn: Introduziu o termo "paradigma", sugerindo que comunidades científicas criam os seus próprios dados, que são incomensuráveis entre si, impossibilitando comparações racionais de progresso.
Paul Feyerabend: Levou os conceitos de carga teórica e paradigma ao extremo, defendendo o anarquismo metodológico ("vale tudo"), rejeitando qualquer tentativa de impor normas científicas.
Imre Lakatos: Tentou resgatar a racionalidade científica através dos "programas de investigação", combinando dogmatismo interno com a avaliação do progresso de programas ao longo do tempo.

Implicações e Novas Perspetivas

Derrocada ou Humanização: A evolução do positivismo lógico para Kuhn e Feyerabend pode ser vista como a falha de um critério de demarcação infalível ou como a introdução de elementos mais humanos e contextuais na ciência.
Ciência como Atividade Humana:
- Popper já via a formulação de hipóteses como uma atividade livre e criativa.
- Kuhn enfatizou a natureza social da ciência e o caráter contextual do conhecimento.
- Wittgenstein concluiu que o conhecimento emerge de uma matriz pragmática e social, dependente de práticas partilhadas.
Convergência Filosófica: Estes desenvolvimentos na filosofia da ciência alinham-se com correntes da filosofia continental, que enfatizam a matriz social e pragmática da investigação.

O próximo capítulo aprofundará as filosofias da ciência que destacam esta dimensão social e hermenêutica da investigação científica.

A Busca pelo Critério de Demarcação na Filosofia da Ciência

A Busca pelo Critério de Demarcação na Filosofia da Ciência